sábado, 19 de março de 2016

Final poético

Todos os poetas morreram
E agora, o que será do amor
E de todos aqueles sentimentos tão lindos
E tantas vezes tão confusos

Daqui pra frente
Quem nos irá contar histórias
Tão bobas, felizes e banais
Refletir sobre as agruras do existir

Agora que todos os poetas morreram
Quem falará baixinho em nossos ouvidos
E nos fará juras de amor eterno
E nos contará fábulas cheias de lições morais

E quem nos fará voltar a ter os pés no chão
Nos obrigando a pensar
Sobre tantos temas desagradáveis
Tantas desigualdades, desencontros e corrupção

Já que todos os poetas morreram
Quem sabe não deveríamos começar
A fazer poesia sobre algo
Que não deveria ter fim

Tal arte tão antiquada
Que não tem lugar em meio à nossa pressa
Queremos resultados imediatos
E não há lugar
Para coisas profundas e rebuscadas

A leveza que o novo tempo exige
Também pode nos levar
À falta de compromisso
À distância não apenas dos outros
Mas também de nós mesmos

Pão e circo
Coisa tão antiga e tão atual
Afinal merecemos nos desligar, desplugar
De tanta tensão e estresse

E lá vai poesia
Parece que vai saltar da ponte
Ir ao encontro do vazio
Final poético, não?

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