domingo, 27 de março de 2016

Sonhando

Eu vi o vento pela janela
A cor do ar pra mim se revelou
O que era incolor virou arco-iris
O colorido se desbotou

O ar em cores e o mundo preto e branco
Animais e plantas e prédios e vilarejos
A relva e o barro e o asfalto
Viraram gradações de cinza tão cinza

Sonhos seriam simplesmente
Ou um desejo com ardor
Realidade, uma pitada de loucura

Tudo voltou ao normal
Será que estava sonhando acordado?
Ou seriam apenas delírios?

sábado, 19 de março de 2016

Final poético

Todos os poetas morreram
E agora, o que será do amor
E de todos aqueles sentimentos tão lindos
E tantas vezes tão confusos

Daqui pra frente
Quem nos irá contar histórias
Tão bobas, felizes e banais
Refletir sobre as agruras do existir

Agora que todos os poetas morreram
Quem falará baixinho em nossos ouvidos
E nos fará juras de amor eterno
E nos contará fábulas cheias de lições morais

E quem nos fará voltar a ter os pés no chão
Nos obrigando a pensar
Sobre tantos temas desagradáveis
Tantas desigualdades, desencontros e corrupção

Já que todos os poetas morreram
Quem sabe não deveríamos começar
A fazer poesia sobre algo
Que não deveria ter fim

Tal arte tão antiquada
Que não tem lugar em meio à nossa pressa
Queremos resultados imediatos
E não há lugar
Para coisas profundas e rebuscadas

A leveza que o novo tempo exige
Também pode nos levar
À falta de compromisso
À distância não apenas dos outros
Mas também de nós mesmos

Pão e circo
Coisa tão antiga e tão atual
Afinal merecemos nos desligar, desplugar
De tanta tensão e estresse

E lá vai poesia
Parece que vai saltar da ponte
Ir ao encontro do vazio
Final poético, não?
Margens Plácidas

As margens plácidas de que rio ouviram o quê
Se esse rio já morreu faz tempo
Onde é que brilham tantos raios fúlgidos
Se a fumaça já ofuscou tudo
Qual é o lugar que está em berço esplêndido
Se a insônia perturbou o tempo inteiro

Onde é que há bosques com tantas flores
Se já arderam e caíram com toda a ganância
E onde será que há vidas tão cheias de amores
Se já não ruíram com toda a indiferença

Será que conseguimos
Conquistar a igualdade mesmo com braço forte
Se existem tantos imunes e impunes
E um povo que morre sem que a justiça seja feita

Será que há mesmo um sonho intenso
Onde o amor e a esperança vão acontecer
Tenho minhas dúvidas pois estamos anestesiados
Com tanta chantagem que vem de todos os lados

Por que precisamos amar e idolatrar
Um lugar onde tão poucos tem tanto e tantos tão pouco
Onde você só tem vez se entrar nesse jogo sujo
Ser filho de fulano ou amigo de sicrano
E o passado glorioso feito de etnocídio, tortura e exploração
Será que vai nos levar a algum futuro

É mesmo esse o lugar que a gente quer pra viver
Pra chamar de pátria, país ou nação
Qual o caminho que se deve seguir
Se apagam as trilhas e omitem os fatos
E sempre tem alguém disposto a puxar o tapete